Afropunk Brasil tem falas sobre caso Marielle e ‘Palestina Livre’ em show

SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – “Minha nação é Ilê/ Minha epiderme é negra”, foram os primeiros versos cantados por Virgínia Rodrigues na abertura do festival Afropunk Brasil, neste sábado (09), no Parque de Exposições, em Salvador.

Acompanhada do próprio Ilê Aiyê –“o mais belo dos belos”, o primeiro bloco afro da Bahia, que esse mês completou 50 anos de fundação–, a cantora foi a convidada especial para abrir o festival e a apresentação.

“Eu tô realizando um sonho de cantar essa música, porque eu sempre fui apaixonada por ela”, disse Virgínia Rodrigues no palco Gira, após agradecer ao Ilê pela honra do convite.

Depois que Rodrigues deixou o palco, o Ilê desfilou sucessos como “Deusa do Ébano” –nome do maior concurso de beleza negra feminina de Salvador, realizada pelo bloco– e “O mais belo dos belos”, com os famosos versos “Quem é que sobe a Ladeira do Curuzu?/ E a coisa mais linda de se ver é o Ilê Aiyê”.

“O Ilê tem um futuro longo pela frente e tem uma capacidade de multiplicar a sua rítmica através de outros blocos afros, outros artistas e ritmos que vieram depois. O Samba-reggae e o Axé não existiriam sem o Ilê”, diz Alexandre Lyrio, coordenador e roteirista do documentário “Ilê Aiyê: A Casa do Mundo”, lançado no início deste mês e disponível no Globoplay.

No encerramento da apresentação, Virgínia Rodrigues voltou ao palco Gira, trazida pelo vocalista Juarez Mesquita, e encerrou o show com o Ilê Aiyê, o primeiro da noite, cantando “Negrume da Noite”.

“Viva o Ilê, viva o povo negro brasileiro! E viva os indígenas, os verdadeiros donos desse país”, declarou Virgínia Rodrigues na despedida ao público.

Na sequência das atrações do palco Gira, foi a vez da cantora Melly, recém indicada ao Grammy Latino. “Espero que vocês se divirtam muito, e a alma negra fique em festa”, disse a baiana ao público.

No Parque de Exposições da maior cidade negra fora da África, o público que foi ao festival Afropunk Brasil vivenciou um clima de liberdade e de celebração à cultura negra. Os fãs tinham a oportunidade de passar pelo “Black Carpet”, espaço para tirar fotos e fazer vídeos, como normalmente acontece com as estrelas de festivais de cinema.

“Uma das coisas que me deixaram cheio de expectativa foi saber que veria Virgínia Rodrigues e Jorge Aragão. Eu acho o Afropunk muito diverso, e isso é lindo”, afirma o chef de cozinha Alan Andrade, que foi pela primeira vez a uma edição do festival.

Depois de Melly, o sambista carioca Jorge Aragão foi a atração no palco Gira. Durante a apresentação de Aragão, enquanto ele cantava a música “Lucidez”, o vocalista da banda Planet Hemp, Marcelo D2, entrou no palco no momento dos versos “Olhe pro lado, olhe pro lado/ Eu estarei por lá”, e cutucou o ombro de Aragão de surpresa.

Com um microfone na mão, D2 ainda gritou “Te amo, Jorge Aragão”, durante a apresentação do sambista. Depois, dessa vez no palco Agô, a atração foi o Planet Hemp, banda de D2.

Desfilando seus principais sucessos que versam sobre a legalização e o uso da maconha, a banda também aproveitou para lembrar da violência do país.

O vocalista Marcelo D2 gritava “Marielle”, seguido pelo público que, em coro, dizia “presente”. D2 ressaltou que os culpados terminam indo para a cadeia, e que as mortes de Marielle Franco e Anderson Gomes não foram em vão.

“Quem mandou matar?”, indagou em seguida BNegão, o outro vocalista do grupo. Ele ainda dedicou a apresentação ao ator e artista visual João Rabello, assassinado em Trancoso, no sul da Bahia, em outubro.

“Nossa vitória não será por acidente: Palestina Livre”, também bradou BNegão.

Neste sábado e na madrugada de domingo, ainda passarão pelos palcos do Afropunk Brasil a americana Erykah Badu, o cantor Léo Santana, a cantora baiana Duquesa e as Irmãs de Pau com a participação de Evylin.

Na grade de atrações de domingo (10), também se apresentarão no Afropunk Brasil nomes como a Larissa Luz, convidando Edcity, além da inglesa Lianne La Havas, convidando a brasileira Liniker. No mesmo dia, a Fat Family fará um show cantando Tim Maia, e o festival será encerrado com a sofrência de Silvanno Salles.

Depois dos shows de 9 e 10 de novembro em Salvador, o festival realizará uma edição em São Paulo, no dia 14 de dezembro.

Maior festival de cultura negra do mundo, o Afropunk surgiu em 2005, em Nova York, espalhando-se depois por outros países como França, África do Sul, Inglaterra e Senegal. No Brasil, esta é a quarta edição do festival.

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