11% dos candidatos eleitos são servidores públicos, a maior parte de centro e direita

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Servidores públicos foram 9,3% dos candidatos no pleito municipal deste ano, mas chegam a 11% dos eleitos, segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Destes, a maioria, ou 85%, venceu por partidos de centro, que saíram à frente nas eleições, ou por siglas mais à direita.

Servidores somam 11,5% dos eleitos em cargo de vereador neste ano, além de 5,7% dos prefeitos e 8,7% dos vices. As três siglas com maior número de profissionais públicos concorrendo ao pleito foram MDB, PSD e PP, que, ao todo, somaram 29% dos candidatos dessa categoria.

Entre as cidades que serão comandadas por servidores está Tatuí, em São Paulo, que terá Miguel Lopes (PSD) como prefeito. Lopes é professor de educação física da rede municipal. Na também paulista Miguelópolis, o cargo será ocupado pelo enfermeiro Julio do Carmo (PSB), vinculado à rede pública de saúde.

O PSB e o PT são as únicas agremiações mais à esquerda entre os dez partidos com maior número de servidores eleitos. Foram 409 e 330, respectivamente, candidatos que venceram a corrida.

O partido de Jair Bolsonaro (PL) é mais popular do que o do presidente Lula (PT) entre esses profissionais. Ao todo, 3.276 candidatos concorreram pelo PL, contra 2.214 que disputaram pelo PT. A sigla do ex-presidente teve 648 servidores públicos eleitos.

Candidatos de categorias ligadas a forças militares e de segurança são mais vinculadas a siglas de direita. O PL foi o partido com maior número de policiais, bombeiros e ex-membros das Forças Armadas, seguido pelo Republicanos e pelo União Brasil. Juntas, as agremiações foram responsáveis por 32% das candidaturas desses profissionais.

Joaquim Silva e Luna (PL), ex-ministro da Defesa e ex-presidente da Petrobras, é general da reserva no Exército e foi eleito prefeito de Foz do Iguaçu (PR). Já em Governador Valadares (MG), o cargo será ocupado por Sandro Lúcio Fonseca (PL), militar reformado. A coronel da Polícia Militar Adriana Duch (MDB) também foi eleita para uma prefeitura, em Itapeva (SP).

O PT liderou em candidaturas apenas entre servidores federais: foram 118 profissionais concorrendo a cargos pelo partido, seguido pelo MDB, com 82, e pelo PL, que teve 76. No entanto, somente 14 petistas se elegeram, o quarto melhor resultado entre os partidos.

A maioria dos candidatos são vinculados à administração municipal, de acordo com os dados do TSE. Ao todo, 30,4 mil profissionais dessa categoria concorreram ao pleito, equivalente a 73% do total de servidores públicos que se candidataram.

Partidos de esquerda têm menos capilaridade em municípios do que os de direita, segundo Bruno Marques Schaefer, professor de ciência política da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). Agremiações como PT e PSOL enfrentam mais dificuldade para chegar ao interior porque têm seu surgimento vinculado a sindicatos e movimentos mais fortes em centros urbanos.

“No nível municipal, existe bastante variação. Em muitas cidades, a esquerda nem existe como força política relevante, então servidores e sindicatos precisam de outros tipos de conexão para fazer valer seus interesses”, diz Schaefer.

Segundo o professor, eleger servidores pode trazer vantagens. Esses profissionais já têm conhecimento sobre a máquina pública, o que facilitaria o encaminhamento de demandas. Ele afirma que, no entanto, ainda há ressalvas sobre isso, uma vez que é preciso ter mais evidências sobre o desempenho dessa categoria em cargos políticos.

Um estudo que avalia esse contexto foi publicado no ano passado, na revista American Political Science Review. A pesquisa mostrou que a eleição de policiais militares para vereadores em cidades brasileiras se relaciona com um aumento no número de homicídios nos municípios que os elegeram, em particular em áreas mais pobres.

Os dados do pleito municipal deste ano se assemelham ao último, de 2020, com uma variação para baixo. Na época, servidores públicos foram 8,9% dos candidatos e 11,4% dos eleitos.

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